Aula 4
Narrativa
POEMA TIRADO DE UMA NOTÍCIA DE JORNAL
“João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número. Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro, Bebeu, Cantou, Dançou, Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.”
Manuel Bandeira
O nome dado ao personagem é muito comum, mostra então certa popularidade e identificação na sociedade. O sobrenome pode ser também interpretado como uma característica, conotação sexual, malandragem... já é possível então visualizar o personagem. Sendo carregador de feira livre, podemos perceber pelo subemprego que não era alguém qualificado. “Morava no morro da babilônia, num barracão sem número.” Por tudo isso, podemos identificar um personagem sofrido, marginalizado. O poema começa como em muitas narrativas, com a apresentação do personagem, depois se cria o conflito, um indicador que torna a história mais interessante. “uma noite” esse é um indicador temporal, equivalente a “era uma vez” a partir deste ponto cria-se várias ações: bebeu, cantou, dançou... perceba que os verbos estão em ordem alfabética como que caminhando numa linha vertical até o último ponto que acaba sendo a lagoa Rodrigo de Freitas.
Ao escrever uma história, tente usar todos os recursos visuais e sonoros.
Elementos:
Enredo: é a trama da narrativa, a forma como se constrói o texto.
Ex: um homem que se suicidou.
Personagens: aqueles que se envolvem na história. Há os principais e os secundários.
Tempo: momento em que ocorrem as ações. Pode ser cronológico (dias, meses, anos...) ou psicológico (quando não é preciso haver um fluxo de tempo)
Espaço: onde ocorrem as ações.
Narrador: aquele que conta a história.
Foco narrativo:
1° pessoa - narrador personagem
3° pessoa – narrador observador (aquele que vê tudo) ou narrador onisciente (aquele que pode dizer o que o personagem sente ou pensa)
“De repente, Honório olhou para o chão e viu uma carteira. Abaixar-se, apanhá-la e
guardá-la foi obra de alguns instantes. Ninguém o viu, salvo um homem que estava à porta de uma loja, e que, sem o conhecer, lhe disse rindo:
- Olhe, se não dá por ela; perdia-a de uma vez.
- É verdade, concordou Honório envergonhado.”
guardá-la foi obra de alguns instantes. Ninguém o viu, salvo um homem que estava à porta de uma loja, e que, sem o conhecer, lhe disse rindo:
- Olhe, se não dá por ela; perdia-a de uma vez.
- É verdade, concordou Honório envergonhado.”
A carteira – Machado de Assis
Nota-se que temos neste texto um narrador observador, ele está de fora observando as ações. Pelos diálogos no presente e o verbo “concordou” temos um discurso direto. O narrador transmite a fala do personagem.
“Tinha medo de abrir a carteira; podia não achar nada, apenas papéis e sem valor para ele. Ao mesmo tempo, e esta era a causa principal das reflexões, a consciência perguntava-lhe se podia utilizar-se do dinheiro que achasse. Não lhe perguntava com o ar de quem não sabe, mas antes com uma expressão irônica e de censura. Podia lançar mão do dinheiro, e ir pagar com ele a dívida? Eis o ponto. A consciência acabou por lhe dizer que não podia, que devia levar a carteira à polícia.”
A carteira – Machado de Assis
Neste ponto do mesmo texto temos um narrador onisciente que descreve todos os pensamentos e sentimentos do personagem.
“Começou por não dizer nada; pôs em mim dous olhos de gato que observa; depois, uma espécie de riso maligno alumiou-lhe as feições, que eram duras. Afinal, disse-me que nenhum dos enfermeiros que tivera, prestava para nada, dormiam muito, eram respondões e andavam ao faro das escravas; dous eram até gatunos!”
O Enfermeiro – Machado de Assis
Perceba que o narrador está na 1° pessoa – narrador personagem
Nas duas últimas linhas podemos perceber o discurso indireto, que é a reprodução pelo narrador daquilo que foi dito.
Tema de redação Unicamp, 2000
No dia 5 de outubro de 1999, terça-feira, o jornal Correio Popular, de Campinas, SP, publicou a seguinte manchete de primeira página, acompanhada de breve texto:
100 mil ficam sem água em Sumaré
Um crime ambiental provocou a suspensão do abastecimento de água de cerca de 100 mil moradores de Sumaré. A medida foi tomada na sexta-feira, quando uma mancha de óleo de aproximadamente 3 quilômetros de extensão surgiu nas águas do rio Atibaia. Anteontem, uma nova mancha apareceu nas proximidades da Estação de Tratamento de Água I, na divisa entre o bairro Nova Veneza e o município de Paulínia. A situação somente será normalizada na quinta-feira. A Cetesb investiga o caso e os técnicos acreditam que o produto (óleo diesel ou gasolina) foi despejado em esgoto doméstico em Paulínia.
Leve em conta esta notícia e privilegie a hipótese dos técnicos, apresentada no final do texto. A partir desses elementos, escreva uma narração em terceira pessoa, caracterizando adequadamente personagens e ambiente. Crie um detetive ou um repórter investigativo que, quando tenta resolver o “crime ambiental”, descobre que o ocorrido é parte de uma conspiração maior.
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